Impulsionados pelas redes sociais, os chamados swap shops, mercados de troca onde os clientes não usam dinheiro para adquirir produtos de segunda mão, já funcionam oficialmente em 18 países. Só na Espanha as feiras de escambo passaram de algumas dezenas em 2007 para cerca de 600 em 2012.
Além disso, um grupo de jovens espanhóis também criou uma alternativa radical para contornar a crise: "lojas" em que todos os produtos são de graça.
Para os organizadores, a razão é a crise, mas também há um forte apelo ao consumo "responsável".
"Não se trata apenas de obter um produto sem ter que gastar, o mais importante é conscientizar as pessoas de que temos que reaprender a consumir", disse à BBC Brasil um porta-voz do Movimento Indignados-15M, que lidera os grupos de escambos organizados na Espanha.
"E aprender (também) a dar valor ao que é realmente útil e necessário para não cair na tentação de comprar de maneira compulsiva e irracional."
Os escambos organizados em redes internacionais começaram em 2003 e aumentaram com a chegada da crise econômica em 2008, multiplicando-se a partir de 2010. Associações de estudantes, ativistas anticapitalistas e ONGs promoviam reuniões que acabaram se tornando um espaço de intercâmbio de produtos e serviços.
Atualmente, há mais de 8 mil grupos organizados espalhados pelo mundo em redes de trocas que colocam à disposição pública quase todos os tipos de artigos e serviços.
Na feira madrilenha La Charca, os organizadores pedem aos consumidores que levem uma manta ou esteira para colocar os artigos à mostra e comida para compartilhar. Vale trocar de truques caseiros até habilidades profissionais.
Ao contrário dos antigos escambos de peças em mau estado que atraíam colecionadores e clientes pobres, os novos mercados são frequentados por todo tipo de público.
"As pessoas estão vendo nesses escambos um conceito de economia solidária. Uma ideia de colaboração sem avaria", disse à BBC Brasil a socióloga Elena Rodríguez, professora da Universidade Complutense de Madri.
"Também uma forma de atenuar a depressão psicológica surgida com a crise, porque reintegra clientes que tinham deixado de consumir e provedores que tinham deixado de oferecer seus produtos. Humaniza o processo comercial", explicou.
Além das feiras de escambo, o Movimento Indignados, também organiza lojas que oferecem roupas e livros usados de graça. A única condição é que a peça escolhida seja utilizada.
Os artigos expostos são todos doados (devem estar em bom estado) e não há limites para o número de peças que um cliente queira levar.
Um dos primeiros mercados, o Tienda Grátis (Loja Grátis, em tradução livre), apareceu na cidade de Málaga, no sul do país, servindo de inspiração para uma franquia que já tem sete filiais na Espanha.
O procedimento é praticamente igual ao de uma loja convencional: escolher a roupa e experimentá-la numa cabine com espelho. Só que não é preciso pagar nem doar outra peça em troca da desejada.
Cartazes avisam: "Leve o que quiser, mas deixe o espaço arrumado. O que passou de moda para você tem novo futuro na loja grátis".
"Nós nos baseamos numa conscientização completamente nova dos hábitos de consumo", explica o diretor do centro cultural A Invisível, que abriga uma loja, Santiago Fernández.
"Todo mundo reclama da atitude feroz de mercados, tecnocratas, políticos. Também é nossa responsabilidade mudar essas atitudes. Aqui está nosso grão de areia, para mostrar que outro mundo é possível", disse.
Outras ONGs espanholas também oferecem objetos doados sem exigências. É o caso da "Não jogo fora.com", "Sem dinheiro.org" e "Segunda Mãozinha", essa última especializada em artigos para bebês.
O Brasil já possui um movimento de escambo, ainda que incipiente. Em São Paulo, a feira mensal Desapegue! faz intercâmbio de roupas e terá sua 21ª edição em 31 de janeiro.
O Desapegue! reúne cerca de 50 participantes que pagam entre R$ 25 e 30 pelo ingresso. Mas os organizadores dizem que é o único gasto. Depois da entrada, cada pessoa recebe em botões o equivalente às peças que cedeu. Os botões são trocados por outros artigos.