Apesar do debate polarizado entre o atual presidente, o candidato democrata Barack Obama, e o adversário republicano, Mitt Romney, a eleição americana da próxima terça-feira (6) tem outros 141 nomes na disputa pela Casa Branca. Esses concorrentes de siglas menores ou independentes, no entanto, não participam de grandes debates, não aparecem em pesquisas e seus nomes nem sequer podem ser votados em todos os estados. "Eles não fazem parte do diálogo público", afirma Alex Keyssar, professor de História e Política Social de Harvard.
A comissão eleitoral federal dos Estados Unidos registrou 417 solicitações formais de candidatura de pessoas, ligadas ou não a um partido, para o pleito presidencial de 2012. Contabilizando as desistências e os pré-candidatos que se enfrentaram nas primárias de suas legendas, que definiram o concorrente de cada sigla, o país tem 143 candidatos, de acordo com a plataforma Politics1, indicada por especialistas ouvidos pelo G1.
Apesar do panorama com fartas opções de candidatos, "99% dos americanos eleitos, em todos os níveis, são democratas ou republicanos", segundo Sandy Maisel, titular da cadeira William R. Kenan Jr. do Departamento de Governo de Colby College e especialista em partidos políticos e eleições nos EUA. "Há muito poucos independentes e virtualmente nenhum de partido menor."
Maisel explica que isso acontece hoje no país devido ao sistema de voto distrital majoritário. Neste caso, diferentemente do Brasil, o país é dividido em 435 distritos e cada um elege apenas um candidato. Então, se um partido menor fica com 10% de votos, em outro sistema poderia eleger alguém, mas no voto majoritário distrital não. "Isso encoraja o bipartidarismo", conclui.
Pressão dos partidos maiores
O professor Alex Keyssar afirma que o bipartidarismo foi construído historicamente nos EUA desde que a nação declarou sua independência da Inglaterra, em 1776. "Não era assim nos primeiros 50, 60 anos da história do país", quando os grupos de pressão ainda eram organizados em facções, e as articulações políticas "eram muitos mais fluidas".
Temas como escravidão e relação de poder entre o governo central e os estados acirraram diferenças internas no país. A discórdia aumentou com a fundação do Partido Democrata moderno, em 1828, que defendia a autonomia dos estados, e a criação do Partido Republicano, em 1854, que promovia a abolição da escravatura.
Durante a passagem do século XIX para o XX, o modelo polarizado ganhou forma. "Após uma série de fortes movimentações de partidos menores, os democratas e os republicanos adotaram leis eleitorais que tornaram muito difícil partidos menores sobressaírem", diz Keyssar.
O voto secreto, implementado gradualmente no fim do século XIX no país, também contribuiu para a divisão, porque o estado passou a ser responsável pela cédula do voto, em vez de cada partido cuidar do objeto. "Colocar o nome da sua legenda na cédula já ficou complicado, porque há uma série de regras", analisa o professor.
Entraves para chegar à cédula
Os americanos não só desconhecem muitos destes candidatos como são impossibilitados de votar na maioria deles, visto que há uma série de requisitos para que o concorrente apareça na cédula, que varia para cada estado e para cada cargo.
Para um partido político menor ter acesso à cédula no Texas, por exemplo, ele deve apresentar até junho anterior ao pleito um número de assinaturas proporcional (1%) ao total de votos na eleição para governador – essa porcentagem representou 49.799 assinaturas neste ano, de acordo com o portal do estado.
Também há casos de um candidato poder ser votado em determinado estado, mas não ter o direito de aparecer na cédula – é a situação chamada write-in, que tem outras exigências.
Do universo de 143 candidatos, só Obama e Romney podem ser votados em todo o país. Outros 14 partidos menores têm acesso às urnas em alguns estados, e 10 candidatos sem partido têm o mesmo acesso parcial. Do total, 117 candidatos não ganharam o direito de ser votados.
Gary Johnson, do partido Libertário, e Jill Stein, do Partido Verde, são os candidatos menores mais fortes (veja arte acima). Johnson aparece em 49 dos 50 estados americanos, sendo que em Michigan a população pode votar nele, mas seu nome não aparece na cédula eleitoral. Jill Stein enfrenta a mesma dificuldade em cinco dos 43 estados onde pode ser escolhida.
A campanha de Gary Johnson, o candidato da legenda Libertária, arrecadou US$ 2.317.996 (R$ 4,710 milhões) em doações individuais até 21 de outubro, valor 300 vezes menor do que os US$ 632.177.423 (R$ 1,285 bilhão) angariados pela corrida de Obama no mesmo período. Jill arrecadou US$ 893.636 (R$ 1,816 milhão).
A soma da arrecadação dos dois menores nem chega a atingir o dinheiro ainda não justificado nas campanhas de Romney (US$ 43.688.010, ou R$ 88,826 milhões) e Obama (US$ 14.143.188, ou R$ 28,755 milhões). Os dados são do Centro para Política Responsável dos Estados Unidos.
Tendência para o centro
Segundo Keyssar, o sistema de dois partidos inibe grandes movimentações na política. "Todo mundo vai em direção ao centro. Com certeza dificulta o desenvolvimento de novas ideias ou novas perspectivas."
O professor acredita ser muito difícil a formação de um novo arranjo político que permita mais do que duas legendas fortes nos Estados Unidos: "Só vai acontecer se um partido rachar." Para ele, republicanos conservadores ficaram descontentes com o discurso mais moderado que Romney adotou durante a corrida presidencial, e essa seria uma janela para uma eventual ruptura.
O caso do Partido Democrata é diferente, mesmo com a desaprovação da ala mais à esquerda em relação a algumas políticas de Obama em sua gestão, como o resgate aos bancos e a demora para rever políticas de imigração. "Não vejo o Partido Democrata rachando neste momento, porque eles têm nos republicanos um inimigo em comum", avalia.